“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de um futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...” (Rubem Alves)





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Castro Alves



A terceira fase do Romantismo brasileiro não se preocupa apenas com o “eu”, mas também com a sociedade. Os poetas desse período são chamados de poetas “condoreiros”, influenciados pelo escritor francês Victor Hugo eles defenderam a justiça social e a liberdade. Enquanto na Europa defendem a classe operária da exploração, no Brasil a luta é pelo fim da escravidão e pela república. Nesse período destaca-se Castro Alves.
Antonio Frederico de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847, na antiga cidade “Curralinho”, hoje chamada de “Castro Alves”. Estudou direito em Recife e em São Paulo. Vivia com a triz portuguesa Eugênia Câmara.
Na faculdade de direito conviveu com outros poetas românticos importantes, além do intelectual baiano Rui Barbosa.
Destacava-se como poeta revolucionário e declamador muito eloquente. Durante uma caçada feriu-se acidentalmente com uma arma de fogo, como consequência teve o pé amputado e agravada sua doença pulmonar. Acabou voltando para salvador, e lá faleceu em 1871. Ele estava no auge de sua popularidade como poeta e declamador.
Sua obra representa um momento de maturidade e transição na poesia Romântica brasileira. Ele demonstrava maturidade e contraposição às atitudes ingênuas de seus predecessores carregadas de idealização e nacionalismo orgulhoso, em vez disso, Castro Alves retrata o lado feio e esquecido pelos primeiros Românticos; a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Representava transição por que suas atitudes mais realistas apontavam para o movimento literário subsequente, o Realismo que já existia na Europa.
Castro Alves possuía uma sensibilidade em relação aos problemas críticos que o Brasil atravessava por volta de 1850. A Poesia de Castro Alves exercia uma função social, estilo que encontrou sua realização na metade do século XIX.
No entanto, como bom romântico, Castro Alves fez também poesias de caráter lírio-amoroso. Entretanto a mulher na obra de Castro Alves aparece como um ser concreto, mais real do que na obra dos outros poetas de sua época.

Texto retirado de “O navio negreiro”:

"Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...

..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano, 
Tu que dormes das nuvens entre as gazas, 
Sacode as penas, Leviathan do espaço, 
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
 "


As duas flores
"São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!"

Referências Bibliográficas
Alves, Castro. Espumas flutuantes. Martin Claret. São Paulo. 2004.
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.

FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.

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