Uma coisa que tem chamado muito a minha atenção nos últimos meses é a critica à educação brasileira ser centralizada na qualidade dos professores. Essa crítica vai desde a boa intenção dos professores até sua formação universitária, porém a realidade é bem diferente da fala teórica e utópica.
Quando digo teórica, não me
refiro à teoria de maneira acadêmica que exige pesquisa, citações de
autoridades no assunto e compromisso com a realidade. Pelo contrário, chamo
teórica num sentido menos acadêmico, teoria como simplesmente ideia
desvinculada da realidade, uma opinião infundada.
O grande desafio do magistério
paulista não está na formação dos professores (é claro que existem casos e
casos), já que a maioria dos professores que conheci, nesses quatro anos de
magistério e treze escolas pelas quais passei, são pessoas de nível cultural
elevado, que apreciam os estudos e buscam sempre melhorar como profissionais.
Também não podemos culpar as
faculdades em cem por cento pelos problemas educacionais, até por que o bom
professor não depende apenas do diploma, e sim procura progredir sempre em sua
formação. Não se fixa em um método pedagógico, mas aprende todos e sempre adéqua
sua metodologia às necessidades de seus alunos, observadas continuamente de
maneira diagnóstica.
O grande problema da educação
paulista é a indisciplina dos alunos em sala de aula. Uma das coisas mais básicas
em qualquer situação em que se tem um professor, é entender que a explicação deve
ser ouvida. Pois sem esta é muito difícil, talvez impossível, sequer o aluno
saber o que está fazendo na escola.
Isso independe do método
utilizado, simplesmente não há o diálogo. Alunos entram em sala de aula
brincando e ignoram tudo o que o professor tem a dizer. Ficam o tempo inteiro
falando alto e quando o professor pede para que eles deixem para conversar em outro momento, ou é ignorado ou desafiado.
É claro que não são todos os
alunos que tem essa postura, geralmente é uma minoria em sala de aula que já
desestabiliza e atrapalha todo o trabalho. Mas os números variam muito, às
vezes temos turmas em que a maioria do alunos não quer prestar atenção na aula,
muito menos fazer as atividades propostas.
Um fator bastante relevante é a
diferença que existe no comportamento dos alunos de escola para escola. Em
todas elas o professor deve saber conquistar o respeito e a atenção dos alunos,
e cada um tem sua maneira de trabalhar. Porém temos “escolas e escolas”.
As escolas mais difíceis de
trabalhar são as que ficam em regiões periféricas. São alunos que tem histórias
de vida muito tristes. Pais separados, pai na cadeia, violência doméstica,
suicídio na família, desprezo dos pais, falta de planejamento familiar, nenhum
incentivo para estudar a não ser o bolsa família, uso de álcool e drogas
ilícitas durante a adolescência, comportamento sexual precoce, etc.
Nas reuniões de pais, aparecem
geralmente apenas os pais dos bons alunos (não é difícil deduzir por que são
bons alunos), os que mais precisam de atenção dos pais simplesmente não a tem.
Mas aí surge a grande questão, “como
o aluno se sentirá motivado a estudar se não há incentivo?”
Como professor procuro conscientizar
os meus alunos da importância da escola em suas vidas e tento ao máximo
fazê-los gostar da matéria para que haja alguma motivação. Mas isso nem sempre é o suficiente, os menores (quinta
à sétima série) não entendem esse tipo de diálogo, acredito que alguns do
ensino médio também não, ou porque sua capacidade de compreensão já está
comprometida pelos muitos anos perdidos, ou não quer encarar a realidade.
Muitos alunos veem a escola
como o lugar que eles tem para extravasar
suas mágoas e brincar o máximo possível com seus colegas sabendo que tem em
casa uma realidade difícil para encarar. É claro que muitas vezes isso acontece
de forma inconsciente e os coitados vão sendo levados pela vida.
Uma rigidez disciplinar em sala
de aula aliada ao bom senso pode ajudar muito no trabalho do professor, mas com
a aprovação automática e a falta de apoio que a escola tem dos pais tudo fica
muito difícil.
O que mais me admira é ver que
com tudo isso ainda há alunos que aprendem e professores que conseguem ensinar
algo, até mesmo incentivar esses alunos a progredir na vida e enfrentar as dificuldades
para encontrar seu próprio caminho.
Por isso não adianta o governo de São Paulo achar que com esses cursos básicos que eles proporcionam e trazem apenas conteúdos que todo professor conhece (geralmente nos primeiros semestres da faculdade) está melhorando a educação. O problema é muito mais sério. É uma questão de estrutura familiar, são pais com histórias complicadas de vida e infelizmente isso reflete na conduta escolar dos filhos.
Por isso não adianta o governo de São Paulo achar que com esses cursos básicos que eles proporcionam e trazem apenas conteúdos que todo professor conhece (geralmente nos primeiros semestres da faculdade) está melhorando a educação. O problema é muito mais sério. É uma questão de estrutura familiar, são pais com histórias complicadas de vida e infelizmente isso reflete na conduta escolar dos filhos.