“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de um futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...” (Rubem Alves)





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RESENHA DO LIVRO “PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO”


O autor Gleason L. Archer Jr nasceu em 1916 e faleceu em 2004. Archer foi BA, MA, PhD pela Harvard
University; BD pelo Princeton Theological Seminary; LLB pela Suffolk Law School.  Foi teólogo, escritor e educador; foi, também, catedrático do Antigo Testamento e Línguas Semíticas na Trinity Evangelical Divinity School. No site da Editora Vida Nova, ele é citado como “um dos principais estudiosos das Escrituras no século 20”. Este trabalho contém uma resenha crítica sobre sua obra “A Survey of Old Testament Introduction” traduzido no Brasil com o título “Merece confiança o Antigo Testamento?”, posteriormente com o título “Panorama do Antigo Testamento” pela Editora vida Nova.

O livro Panorama do Antigo Testamento, escrito pelo autor Gleason L. Archer Jr e publicado pela Editora Vida Nova, introduz de maneira muito eficiente e completa, o seminarista aos estudos sobre a crítica do Antigo Testamento. O autor começa com uma longa introdução que deixa claro o propósito do livro. Segundo Ancher:

Introdução ao Antigo Testamento é a expressão que se aplica ao estudo sistemático do pano de fundo antigo dentro do qual se deve entender os primeiros trinta e nove livros da Bíblia de forma correta. Trata de assuntos de linguagem, costumes e situações históricas, trata das pessoas, dos lugares e dos acontecimentos aos quais os livros da Bíblia fazem alusões. (p.11)

Já na introdução, o autor aborda pontos como: a relação entre o Antigo e o Novo Testamento e a família semítica das línguas. Segue falando sobre a inspiração do Antigo Testamento e a inerrância dos autógrafos originais. O autor cita uma interconexão orgânica que aconteceu num período de muitos séculos durante sua composição. Destaca a unidade tão marcante dos livros que só poderia ter sido feito por “uma mente única, a mente do próprio Autor Divino” (p.17).  O autor destaca também o fato de que apenas a visão religiosa hebraico-cristã possui uma epistemologia logicamente defensável, quando se compara às outras religiões que surgiram no mundo. Archer afirma que a afirmação da inspiração nas próprias escrituras é evidente nas profecias bíblicas cumpridas.

Na sequência, Archer comenta sobre os manuscritos antigos, citando suas datas. Para facilitar a compreensão, há uma tabela (p.43) que indica de maneira clara essas informações. Archer também comenta, nesses primeiros capítulos, sobre A Baixa Crítica do Antigo Testamento, que tem como missão restaurar o texto original com base nas cópias imperfeitas que chegaram até nós. São citados os erros comuns que aparecem nas cópias dos manuscritos.

Toda essa primeira parte do livro aborda de maneira muito didática esses pontos, e deixa muito claro que as contradições do texto bíblico ocorrem devido erros nas cópias, não nos autógrafos originais. A Baixa Crítica se preocupa em analisar a Bíblia de maneira honesta e sempre considerando as Sagradas Escrituras como inspiradas por Deus.

Na sequência, Archer apresenta a Teoria Documental do Pentateuco. A partir deste ponto do livro, o autor se esforça para apresentar a Alta Crítica do Antigo Testamento sempre apresentando o contraponto ortodoxo, de maneira detalhada, provando que a Bíblia deve ser tratada como Palavra Inspirada de Deus.

De acordo com o ponto de vista documental, o Pentateuco foi composto em partes que levaram séculos para serem concluídas. Há o documento J supostamente escrito em cerca de 850 a.C, o documento E supostamente escrito em 750 a.C, o documento D supostamente escrito em 621 a.C, durante a reforma do Rei Josias e o documento P supostamente composto em várias etapas, desde Ezequiel em cerca de 570 a.C até Esdras.

Nos capítulo 8 e 9, Archer detalha, de maneira muito eficiente, os critérios para a divisão de fontes usados pelos teóricos da Teoria Documental. Há um destaque especial para a escolha dos nomes de Deus que sofreria, segundo esses teóricos, mudanças com o decorrer do tempo. Outro critério importante é o linguístico, os aramaísmos presentes que alguns textos fizeram os teóricos documentais acreditarem nessa separação histórica da composição do Pentateuco.

Durante todo o livro, o autor se esforça para desmentir os liberais. O que consegue com bastante eficiência, levando em conta as descobertas arqueológicas que surgiram após a Teoria Documental ter sido elaborada. Essas descobertas desmentem totalmente algumas afirmações desses teóricos.Segundo Archer:

Seria apenas natural que a hipótese de Wellhausen fundamentasse seu julgamento concernente à historicidade do registro do Antigo Testamento em dados arqueológicos disponíveis no século XIX. Contudo, esses dados eram, lamentavelmente, escassos durante o período formativo da teoria documental, e pode ser que, com base na ignorância que prevalecia na época, tenham desconsiderado muitas declarações das Escrituras que ainda não tinham confirmação arqueológica. (p.185)

Alguns argumentos liberais que foram desmentidos pelas descobertas arqueológicas são:

A suposta ausência de escrita em Israel antes da monarquia davídica. Essa afirmação foi refutada pela descoberta do Calendário de Gezer, escrito em 925 a.C e descoberto no século XX. As dúvidas sobre a cronologia dos acontecimentos da vida de Abraão e até mesmo a negação da existência deste tão importante patriarca. Essas afirmações foram refutadas pela escavação da cidade de Ur que provou ser esta cidade muito evoluída e grande por volta de 2000 a.C; o nome Abraão foi descoberto em uma tábua acadiana datada de 1554 a.C; escavações nas cidades palestinas por onde Abraão passou mostram que essas cidades já eram habitadas em sua época, o mesmo com relação ao vale do Jordão que descobriram ser habitado já em 3000 a.C; a existência dos reis mesopotâmicos em especial Quedorlamomer foi muito questionada. Essa afirmação foi refutada pela descoberta de que uma dinastia elamita estabeleceu domínio temporário na Suméria, seus nomes começam com “Kudur” vocábulo que significa “servo” e havia uma deusa elamita chamada Lagamar, considerando essas descobertas, seria muito natural presumir que um rei chamado Kudur-Lagamar (pronúncia muito parecida com Quedorlaomer) tenha vivida naquela época; as tábua de Mari provando a existência de uma cidade chamada Naor. Além desses achados arqueológicos, há muitos outros citados por Archer para desmascarar os erros dos liberais quanto a autenticidade das escrituras, como a Tábua de Moabe, expondo leis que aparecem sendo aplicadas em Gênesis pelos patriarcas.

Outra descoberta arqueologia muito importante, citada por Archer, foi a cidade de Ebla, localizada a cerca de 70, 8 quilômetros ao sul de Alepo. Essa empolgante descoberta, em 1964, provou que essa cidade foi ocupada já em 3500 a.C. Em 1974, foi encontrada, em Ebla, uma biblioteca inteira com tábuas em escrita cuneiforme acadiana que possuíam uma influência do cananeu em boa parte de seu vocabulário. No total foram mais de 14000 tábuas descobertas, contendo a história da  cidade. Nessas tábuas, havia também registros do comércio entre a cidade de Ebla e uma cidade chamada Si-da-um-ki, o que parece muito com o nome Sodoma, também uma cidade chamada Sa-bi-im, provavelmente Zeboim. Estas cidades tiveram sua existência descartada por Wellhausem e tratadas como meras lendas. Mais uma vez, as descobertas arqueológicas desmentem os liberais e provam a veracidade das escrituras. Esse estudo arqueológico, apresentado por Archer, desperta no leitor o interesse dessa fascinante ciência que é a arqueologia, e de sua importância no estudo das Sagradas Escrituras.

A partir do capítulo 14, o autor introduz todos os livros do antigo testamento, sempre argumentando de maneira muito eficiente, a respeito da autoria, época de composição e confiabilidade do livro.

A leitura do livro “Panorama do Antigo Testamento” é muito importante para quem deseja se aprofundar no conhecimento do Antigo Testamento. Além de muito minucioso nos detalhes que envolvem todo o contexto de criação dos textos bíblicos, o autor se aprofunda nas questões linguísticas e arqueológicas para provar seus argumentos. Mais do que esclarecer os pontos de contradição e provar a importância de um estudo bíblico de visão ortodoxa, Archer, de certa forma, introduz o leitor nesse universo tão rico e interdisciplinar que envolve as Sagradas Escrituras.

É impossível para o leitor de “Panorama do Antigo Testamento” não se interessar pela arqueologia e suas descobertas tão fascinantes que ajudam a provar a veracidade das escrituras. Isso ocorre principalmente ao estudar os capítulos que mencionam os manuscritos encontrados nas cavernas de Qunram, às margens do Mar Morto. Estes manuscritos que foram descobertos apenas no século XX e que mesmo sendo séculos mais antigos que os manuscritos então conhecidos, concordam com eles e provam sua veracidade. Os estudos dessas descobertas abrem para o leitor um mundo de novas pesquisas, leituras e conhecimentos que podem ser incorporados em sua formação teológica e acadêmica em geral.

Outro fator que chama bastante atenção, na obra de Archer, é o conhecimento linguístico usado para argumentar em prol da veracidade das escrituras e sua inspiração divina. Um estudante que se aprofunda na língua Hebraica, acrescentando nesse estudo suas variações diacrônicas, seu contexto histórico e a influência do aramaico, se torna muito mais produtivo em seus argumentos quando defende a autoridade e inspiração das Sagradas Escrituras.

Além de dar uma visão panorâmica muito esclarecedora a respeito do Antigo Testamento quanto lida na íntegra, a obra de Archer serve também para futuras pesquisas. Sendo uma obra para ser guardada a usada por muitos anos, como fonte de pesquisa para futuros estudos bíblicos e pregações.

Todo servo de Deus comprometido com a pregação e o ensino das escrituras deve se esforçar para continuar sua formação teológica, e, também, se preparar sempre que encara essa responsabilidade de levar a Palavra de Deus, seja para evangelizar, edificar, exortar ou consolar. Levando esse fato em consideração, é de muito valor a indicação da obra “Panorama do Antigo Testamento” escrita por Gleason L. Archer Jr.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referência bibliográfica:

ARCHER JR, Gleason l. Panorama do Antigo Testamento. 2012. Vida Nova. São Paulo.