“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de um futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...” (Rubem Alves)





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Essência da Verdadeira Adoração

 

 O livro “Essência da Verdadeira Adoração”  é uma leitura bastante interessante para aqueles que creem na veracidade das escrituras sagradas e têm Jesus como seu salvador e senhor. Li esse livro no início de 2021 e escrevi o pequeno resumo abaixo como atividade do seminário que estou cursando no momento desta postagem. É um livro que reaviva a vida do crente que o lê.



O autor começa destacando a importância das Sagradas Escrituras como base da vida cristã e reguladora da verdadeira adoração. Considerando ser a Bíblia a regra de fé e conduta da igreja cristã reformada, é de suma importância que a adoração seja regulada pela palavra de Deus. O autor destaca o fato de que o conhecimento das escrituras deve levar os cristãos a uma vida de adoração, assim como, uma vida de adoração deve ser acompanhada pela busca do conhecimento das escrituras. 

A adoração é também apresentada por MacArthur como um estilo de vida que deve ser seguido por quem procura conhecer mais a Deus e é grato por receber Dele o perdão dos pecados e uma vida nova em Cristo.

Na sequência, o autor expõe os atributos de Deus citados nas escrituras, tanto atributos naturais, eternidade, onisciência, onipotência, onipresença, espiritualidade; como também, atributos morais, amor, fidelidade, bondade.

MacArthur faz também uma comparação entre as práticas religiosas automáticas e a adoração “em espírito e em verdade” citada por Jesus à mulher samaritana no evangelho de João no capítulo 4. Destacando, assim, a importância de buscar uma real comunhão com Deus em vez de apenas praticar uma religião.

O autor conclui o livro comparando os hinos cantados pós reforma com os louvores gospel, cantados a partir do século XIX, chegando até os louvores atuais. Neste último capítulo há uma crítica sobre a formação teológica dos compositores e o compromisso didático de reforçar os princípios bíblicos pelos louvores congregacionais, em lugar de apenas emocionar as pessoas.

Para mim foi muito edificante essa leitura. Ajudou-me a compreender melhor como é a adoração de uma perspectiva bíblica, com mais precisão teológica e responsabilidade ministerial. Além de que é um livro que estimula bastante a vontade de orar, adorar e buscar ainda mais a santificação para que o fruto do Espírito seja cada vez mais presente em minha vida, e assim, eu possa adorá-Lo cada vez mais com minhas atitudes, além das palavras.

Bibliografia:

MACARTHUR, John. Essência da Verdadeira Adoração. Hagnos. 2019

 


RESENHA DO LIVRO “PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO”


O autor Gleason L. Archer Jr nasceu em 1916 e faleceu em 2004. Archer foi BA, MA, PhD pela Harvard
University; BD pelo Princeton Theological Seminary; LLB pela Suffolk Law School.  Foi teólogo, escritor e educador; foi, também, catedrático do Antigo Testamento e Línguas Semíticas na Trinity Evangelical Divinity School. No site da Editora Vida Nova, ele é citado como “um dos principais estudiosos das Escrituras no século 20”. Este trabalho contém uma resenha crítica sobre sua obra “A Survey of Old Testament Introduction” traduzido no Brasil com o título “Merece confiança o Antigo Testamento?”, posteriormente com o título “Panorama do Antigo Testamento” pela Editora vida Nova.

O livro Panorama do Antigo Testamento, escrito pelo autor Gleason L. Archer Jr e publicado pela Editora Vida Nova, introduz de maneira muito eficiente e completa, o seminarista aos estudos sobre a crítica do Antigo Testamento. O autor começa com uma longa introdução que deixa claro o propósito do livro. Segundo Ancher:

Introdução ao Antigo Testamento é a expressão que se aplica ao estudo sistemático do pano de fundo antigo dentro do qual se deve entender os primeiros trinta e nove livros da Bíblia de forma correta. Trata de assuntos de linguagem, costumes e situações históricas, trata das pessoas, dos lugares e dos acontecimentos aos quais os livros da Bíblia fazem alusões. (p.11)

Já na introdução, o autor aborda pontos como: a relação entre o Antigo e o Novo Testamento e a família semítica das línguas. Segue falando sobre a inspiração do Antigo Testamento e a inerrância dos autógrafos originais. O autor cita uma interconexão orgânica que aconteceu num período de muitos séculos durante sua composição. Destaca a unidade tão marcante dos livros que só poderia ter sido feito por “uma mente única, a mente do próprio Autor Divino” (p.17).  O autor destaca também o fato de que apenas a visão religiosa hebraico-cristã possui uma epistemologia logicamente defensável, quando se compara às outras religiões que surgiram no mundo. Archer afirma que a afirmação da inspiração nas próprias escrituras é evidente nas profecias bíblicas cumpridas.

Na sequência, Archer comenta sobre os manuscritos antigos, citando suas datas. Para facilitar a compreensão, há uma tabela (p.43) que indica de maneira clara essas informações. Archer também comenta, nesses primeiros capítulos, sobre A Baixa Crítica do Antigo Testamento, que tem como missão restaurar o texto original com base nas cópias imperfeitas que chegaram até nós. São citados os erros comuns que aparecem nas cópias dos manuscritos.

Toda essa primeira parte do livro aborda de maneira muito didática esses pontos, e deixa muito claro que as contradições do texto bíblico ocorrem devido erros nas cópias, não nos autógrafos originais. A Baixa Crítica se preocupa em analisar a Bíblia de maneira honesta e sempre considerando as Sagradas Escrituras como inspiradas por Deus.

Na sequência, Archer apresenta a Teoria Documental do Pentateuco. A partir deste ponto do livro, o autor se esforça para apresentar a Alta Crítica do Antigo Testamento sempre apresentando o contraponto ortodoxo, de maneira detalhada, provando que a Bíblia deve ser tratada como Palavra Inspirada de Deus.

De acordo com o ponto de vista documental, o Pentateuco foi composto em partes que levaram séculos para serem concluídas. Há o documento J supostamente escrito em cerca de 850 a.C, o documento E supostamente escrito em 750 a.C, o documento D supostamente escrito em 621 a.C, durante a reforma do Rei Josias e o documento P supostamente composto em várias etapas, desde Ezequiel em cerca de 570 a.C até Esdras.

Nos capítulo 8 e 9, Archer detalha, de maneira muito eficiente, os critérios para a divisão de fontes usados pelos teóricos da Teoria Documental. Há um destaque especial para a escolha dos nomes de Deus que sofreria, segundo esses teóricos, mudanças com o decorrer do tempo. Outro critério importante é o linguístico, os aramaísmos presentes que alguns textos fizeram os teóricos documentais acreditarem nessa separação histórica da composição do Pentateuco.

Durante todo o livro, o autor se esforça para desmentir os liberais. O que consegue com bastante eficiência, levando em conta as descobertas arqueológicas que surgiram após a Teoria Documental ter sido elaborada. Essas descobertas desmentem totalmente algumas afirmações desses teóricos.Segundo Archer:

Seria apenas natural que a hipótese de Wellhausen fundamentasse seu julgamento concernente à historicidade do registro do Antigo Testamento em dados arqueológicos disponíveis no século XIX. Contudo, esses dados eram, lamentavelmente, escassos durante o período formativo da teoria documental, e pode ser que, com base na ignorância que prevalecia na época, tenham desconsiderado muitas declarações das Escrituras que ainda não tinham confirmação arqueológica. (p.185)

Alguns argumentos liberais que foram desmentidos pelas descobertas arqueológicas são:

A suposta ausência de escrita em Israel antes da monarquia davídica. Essa afirmação foi refutada pela descoberta do Calendário de Gezer, escrito em 925 a.C e descoberto no século XX. As dúvidas sobre a cronologia dos acontecimentos da vida de Abraão e até mesmo a negação da existência deste tão importante patriarca. Essas afirmações foram refutadas pela escavação da cidade de Ur que provou ser esta cidade muito evoluída e grande por volta de 2000 a.C; o nome Abraão foi descoberto em uma tábua acadiana datada de 1554 a.C; escavações nas cidades palestinas por onde Abraão passou mostram que essas cidades já eram habitadas em sua época, o mesmo com relação ao vale do Jordão que descobriram ser habitado já em 3000 a.C; a existência dos reis mesopotâmicos em especial Quedorlamomer foi muito questionada. Essa afirmação foi refutada pela descoberta de que uma dinastia elamita estabeleceu domínio temporário na Suméria, seus nomes começam com “Kudur” vocábulo que significa “servo” e havia uma deusa elamita chamada Lagamar, considerando essas descobertas, seria muito natural presumir que um rei chamado Kudur-Lagamar (pronúncia muito parecida com Quedorlaomer) tenha vivida naquela época; as tábua de Mari provando a existência de uma cidade chamada Naor. Além desses achados arqueológicos, há muitos outros citados por Archer para desmascarar os erros dos liberais quanto a autenticidade das escrituras, como a Tábua de Moabe, expondo leis que aparecem sendo aplicadas em Gênesis pelos patriarcas.

Outra descoberta arqueologia muito importante, citada por Archer, foi a cidade de Ebla, localizada a cerca de 70, 8 quilômetros ao sul de Alepo. Essa empolgante descoberta, em 1964, provou que essa cidade foi ocupada já em 3500 a.C. Em 1974, foi encontrada, em Ebla, uma biblioteca inteira com tábuas em escrita cuneiforme acadiana que possuíam uma influência do cananeu em boa parte de seu vocabulário. No total foram mais de 14000 tábuas descobertas, contendo a história da  cidade. Nessas tábuas, havia também registros do comércio entre a cidade de Ebla e uma cidade chamada Si-da-um-ki, o que parece muito com o nome Sodoma, também uma cidade chamada Sa-bi-im, provavelmente Zeboim. Estas cidades tiveram sua existência descartada por Wellhausem e tratadas como meras lendas. Mais uma vez, as descobertas arqueológicas desmentem os liberais e provam a veracidade das escrituras. Esse estudo arqueológico, apresentado por Archer, desperta no leitor o interesse dessa fascinante ciência que é a arqueologia, e de sua importância no estudo das Sagradas Escrituras.

A partir do capítulo 14, o autor introduz todos os livros do antigo testamento, sempre argumentando de maneira muito eficiente, a respeito da autoria, época de composição e confiabilidade do livro.

A leitura do livro “Panorama do Antigo Testamento” é muito importante para quem deseja se aprofundar no conhecimento do Antigo Testamento. Além de muito minucioso nos detalhes que envolvem todo o contexto de criação dos textos bíblicos, o autor se aprofunda nas questões linguísticas e arqueológicas para provar seus argumentos. Mais do que esclarecer os pontos de contradição e provar a importância de um estudo bíblico de visão ortodoxa, Archer, de certa forma, introduz o leitor nesse universo tão rico e interdisciplinar que envolve as Sagradas Escrituras.

É impossível para o leitor de “Panorama do Antigo Testamento” não se interessar pela arqueologia e suas descobertas tão fascinantes que ajudam a provar a veracidade das escrituras. Isso ocorre principalmente ao estudar os capítulos que mencionam os manuscritos encontrados nas cavernas de Qunram, às margens do Mar Morto. Estes manuscritos que foram descobertos apenas no século XX e que mesmo sendo séculos mais antigos que os manuscritos então conhecidos, concordam com eles e provam sua veracidade. Os estudos dessas descobertas abrem para o leitor um mundo de novas pesquisas, leituras e conhecimentos que podem ser incorporados em sua formação teológica e acadêmica em geral.

Outro fator que chama bastante atenção, na obra de Archer, é o conhecimento linguístico usado para argumentar em prol da veracidade das escrituras e sua inspiração divina. Um estudante que se aprofunda na língua Hebraica, acrescentando nesse estudo suas variações diacrônicas, seu contexto histórico e a influência do aramaico, se torna muito mais produtivo em seus argumentos quando defende a autoridade e inspiração das Sagradas Escrituras.

Além de dar uma visão panorâmica muito esclarecedora a respeito do Antigo Testamento quanto lida na íntegra, a obra de Archer serve também para futuras pesquisas. Sendo uma obra para ser guardada a usada por muitos anos, como fonte de pesquisa para futuros estudos bíblicos e pregações.

Todo servo de Deus comprometido com a pregação e o ensino das escrituras deve se esforçar para continuar sua formação teológica, e, também, se preparar sempre que encara essa responsabilidade de levar a Palavra de Deus, seja para evangelizar, edificar, exortar ou consolar. Levando esse fato em consideração, é de muito valor a indicação da obra “Panorama do Antigo Testamento” escrita por Gleason L. Archer Jr.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referência bibliográfica:

ARCHER JR, Gleason l. Panorama do Antigo Testamento. 2012. Vida Nova. São Paulo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As Relações Familiares e a Formação do Sujeito Emocional.



O mau comportamento dos alunos hoje em dia é algo que chama a atenção das pessoas. 
Não apenas a atenção dos profissionais da educação, mas também de quem assiste aos noticiários, ou ao passar na frente de alguma escola ouvir o barulho causado pelos alunos. Porém nós educadores que trabalhamos e convivemos com esses alunos diariamente não podemos ter esse olhar superficial. Precisamos compreender que a nossa postura como educadores e a estrutura familiar são fundamentais para influenciar positiva ou negativamente o desenvolvimento desses alunos.

A relação do sujeito com a família é de suma importância para o educando em seu desenvolvimento escolar. Sendo a família uma das principais responsáveis (senão a principal) pelo desenvolvimento no aspecto emocional da criança. Fica evidente que em famílias disfuncionais e violentas os filhos têm grandes dificuldades em se relacionar com os colegas de escola e em se interessar por desenvolver-se como educando.
A falta de interesse escolar é evidente nesses alunos. Eles não têm o mínimo interesse em aprender, não conseguem prestar a devida atenção nas explicações dos professores. Mesmo quando conseguem cooperar em não atrapalhar a aula, eles se concentram em outras coisas ou simplesmente abaixam a cabeça na carteira e tentam dormir. É como se as atividades escolares fossem uma grande tortura, um tormento. Tudo isso porque esses alunos têm uma estrutura emocional fragilizada devido problemas familiares dos quais eles não possuem a mínima culpa, sendo “as grandes vítimas da história”.
O mesmo ocorre com o comportamento violento. O educando que vivencia em seu cotidiano comportamentos violentos dos pais, sejam essas agressões físicas ou verbais, irá reproduzir esse comportamento em sala de aula. Na maioria das
vezes com os colegas e em algumas vezes até mesmo com os professores e demais profissionais da escola.
O educador que não estiver ciente das razões desses comportamentos inadequados pode se tornar (sem perceber) um influenciador na má conduta do aluno. Rotulando-o e aumentando sua agressividade.
Algo que deve ser considerado é que a autoestima da criança é formada essencialmente no lar, com sua família. Quando os pais não conseguem influenciar a criança a ser equilibrada emocionalmente isso refletirá em sua vida escolar.
Entretanto a escola também tem o seu papel nesse processo. Nós como educadores precisamos ajudar o educando a se sentir seguro no ambiente escolar, precisamos ajuda-lo a acreditar que a escola tem coisas boas para oferecer, que ele tem capacidade para se desenvolver como aluno e que na divisão do espaço com os demais colegas todos têm uma grande importância, que ele merece respeito e é capaz, assim como os outros também.

O educador precisa estar consciente de que em sua carreira se deparará com muitos alunos com problemas de baixa autoestima, e comportamento agressivo. Acredito que toda tentativa é válida para resolver ou pelo menos minimizar esses problemas no ambiente escolar. Principalmente o diálogo, diálogo com os pais e com a própria criança. Impor os limites e sempre respeitar os educandos ajudando-os a compreender seu valor e capacidade como aluno, e principalmente, que assim como ele merece respeito, seus colegas também merecem.



Referências:

SERVANTES, Luciano Ferraz. Família, relações , vínculos e aprendizagem. Unidade 6, itens
6.1 e 6.2. Apostila do curso de Psicopedagogia da UCDB

A disciplina do amor

Foi na França, durante a Segunda Grande guerra: um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e na maior alegria acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta à casa. A vila inteira já conhcecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava até a correr todo animado atrás dos mais íntimos. Para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe.
Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que oudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro, até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao posto de espera. O jovem morreu num bombardeio mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias.
Todos os dias, com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um  primo. os familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina.
As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?…Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.

Lygia Fagundes Telles

Crente capoeirista!!!?



Muitas pessoas nas igrejas evangélicas dizem que a capoeira não pode ser praticada pelos crentes, e citam como motivo a crença de que ela pertence às religiões afro brasileiras. Por isso consideram-na como algo que vai contra a fé evangélica.

Mas será que isso é verdade? Será que o crente não pode praticar capoeira? 

Para entendermos, precisamos saber primeiro, o que é a capoeira.

A capoeira é um esporte nascido no Brasil, um esporte que faz parte da cultura brasileira. Uma luta que tem características de dança, chegando a ser confundida com uma dança. Seus movimentos acrobáticos podem ser usados como golpes,  mas o uso comum é embelezar o jogo.  
Se diz geralmente jogar capoeira e não lutar ou dançar capoeira. A razão é muito simples, numa roda de capoeira a disputa é mais pela inteligência e habilidade do que pela brutalidade (isso se não for um campeonato específico de contato). É uma espécie de jogo de inteligência em que na maioria das vezes não existe chateação por parte de quem é derrubado ou leva um golpe, a camaradagem é muito maior do que a rivalidade.
Ela surgiu como um meio de defesa utilizado pelos negros na época da escravidão. Foi proibida quando o Brasil se tornou uma república. Nessa época os capoeiristas eram considerados marginais. Eram pessoas excluídas em uma sociedade que já tinha desigualdades absurdas.
A abolição aconteceu um ano antes da proclamação da República, e não houve uma preparação. Os negros libertos não tinham profissão nem eram aceitos pelos brancos como empregados, por isso muitos foram viver na marginalidade. Também não eram católicos ou evangélicos. Os negros eram considerados pela igreja como seres sem alma, verdadeiros animais.
Na época do Estado Novo  um Mestre muito famoso que ensinava a capoeira em uma academia (algo novo na época) se apresentava como um educador. Esse foi Manoel dos Reis Machado, também conhecido como Mestre Bimba. Ele criou uma nova modalidade de capoeira chamada de capoeira regional, e fez uma apresentação para o então presidente Getúlio Vargas.
Nessa época a capoeira deixou de ser vista como malandragem e passou a ser considerada como um esporte.
Por influência das artes marciais orientais, Mestre Bimba adotou o uniforme branco em sua academia.
A capoeira tradicional, conhecida como capoeira angola, tinha como principal mestre um homem chamado Vicente Joaquim Ferreira Pastinha. Mais conhecido como Mestre Pastinha.
Mestre Pastinha fundou em 1942 uma academia de capoeira angola e adotou as cores preta e amarela como cores do uniforme, em homenagem ao seu time do coração o Ypiranga Futebol Clube.
Hoje em dia ainda se joga capoeira angola e capoeira regional. Porém a maioria das academias ensina a capoeira contemporânea ,  que engloba os dois estilos. Puxando mais para um ou para o outro dependendo do ritmo tocado pelo berimbau. Quando a velocidade aumenta o jogo é mais em pé e tem mais acrobacias.
As músicas de capoeira servem para animar a roda, algumas têm lirismo, sendo o eu-lírico muitas vezes um escravo. Outras simplesmente não têm um significado profundo. É possível (embora não ocorra sempre,)alguém cantar algo que expõe sua religião. Dentre essas há também músicas que falam do Deus cristão.

A religiosidade é algo particular. Ser adepto das religiões africanas ou afro brasileiras, ou ser cristão não interfere em nada no jogo da capoeira.
Se alguém antes de entrar na roda faz algo pedindo proteção que pertence à sua religião, esse algo é particular. Isso é da pessoa e não da capoeira.
Muitos crentes se escandalizam porque capoeiristas fazem o sinal da cruz antes de entrar na roda, mas não se escandalizam se um jogador de futebol o faz antes de entrar em campo. 

Quanto aos instrumentos, o berimbau é o principal, o que dita o ritmo. Sua origem é incerta e seu uso é originalmente da capoeira.
O pandeiro foi trazido ao Brasil pelos portugueses. Entrou na Península Ibérica através dos muçulmanos.
O agogô é de origem africana. A palavra no original significa sino.
O atabaque, um tipo de tambor, foi utilizado primeiro pelo candomblé, mas os toques para a roda de capoeira são muito diferentes e bem simples. Hoje ele é usado também em muitas igrejas evangélicas.

A capoeira não está ligada a nenhuma religião, ela é um esporte. Um esporte que pode ser praticado por qualquer pessoa, seja ela católica, evangélica, espírita, muçulmana, ateia, etc.

A capoeira é uma das nossas principais riquezas, um patrimônio cultural do Brasil. É também um meio de divulgação muito forte da língua portuguesa. Há milhares de pessoas no mundo que aprenderam a nossa língua simplesmente por gostarem de capoeira.
Ela tem muito valor por ser um esporte que desenvolve o corpo e a mente, por sua riqueza estética, e por fazer parte da cultura brasileira.




Gonçalves Dias


Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade de uma literatura autenticamente brasileira. Uma literatura que exaltasse as qualidades de um Brasil independente, uma literatura com identidade nacional.
Nessa época surgiu o Romantismo Brasileiro com a obra “Suspiros poéticos e saudade” de Gonçalves de Magalhães. Logo em seguida veio Gonçalves Dias e acrescentou grande qualidade ao Romantismo brasileiro e tornou-se o principal nome nesse período.

Vida e obra de Gonçalves Dias
Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), filho de um comerciante português e de uma cafuza, nasceu no Maranhão onde fez os primeiros estudos. Cursou direito em Coimbra, onde conheceu escritores românticos portugueses. Viveu em Portugal por oito anos que foram muito importantes para a sua formação intelectual.
A grande paixão de sua vida foi Ana Amélia do Vale. A família de Ana Amélia do Vale não permitiu a união por ele ser mestiço. Acabou casando com Olímpia da Costa. Em 1854 por casualidade encontrou Ana Amélia em Lisboa, esse encontro teve como resultado o poema “Ainda uma vez adeus”.
Gonçalves Dias teve muitos problemas de saúde: problemas cardíacos, hepatite, malária e gastrite. Em 1862 regressou à Europa em busca de tratamento. Na volta ao Brasil aconteceu um naufrágio do navio e Gonçalves Dias faleceu com 41 anos.
A poesia romântica Brasileira começou com Gonçalves de Magalhães, mas foi Gonçalves Dias o grande poeta do inicio do Romantismo, como afirma Alfredo Bosi:

Gonçalves Dias foi o primeiro poeta autentico a emergir em nosso Romantismo. Se manteve com a literatura do grupo de Magalhães mais de um contato (passadismo, pendor filosofante), a sua personalidade de artista soube transformar os temas comuns em obras poéticas duradouras que o situam muito acima de seus predecessores.(BOSI, Alfredo. In História concisa da Literatura Brasileira. 2006. pag. 104)

Obra:
Poesia: Primeiros cantos (1846); segundos cantos(1848); Sextilhas do Rei Antão(1848); últimos cantos (1851); Os timbiras (1857).
Teatro: Betriz Cenci (1843); Leonor de Mendonça (1847).
Outros: Brasil e Oceania (1852); Dicionário da língua tupi (1858).


Gonçalves Dias buscava captar os sentimentos e a sensibilidade de nosso povo. Sua poesia foi criada numa linguagem simples e acessível, com métricas e ritmos variados, voltada para o índio(substituto da figura do herói medieval europeu), e a natureza brasileira. Como podemos observar nos seguintes poemas:

O canto do guerreiro
(primeira estrofe)
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 



Gonçalves Dias também falava do amor não correspondido, como podemos observar no poema “Ainda uma vez-Adeus”:

"Ainda uma vez-Adeus"
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!


Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp'rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!


Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.


Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!


Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!


Oh! se lutei! . . . mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?


Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e 
em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!


Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!


Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha. . .
Perdoa, que me enganei!


Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!


Enganei-me!... — Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!


Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.


Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!


És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!


Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão.
Considerações Finais
O equilíbrio de linguagem de Gonçalves Dias e seus temas preferidos serviram de modelo a muitas gerações de poetas que vieram depois, tanto no Romantismo quanto em outros movimentos literários subsequentes.


Referências
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.
FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.

Alvares de Azevedo


Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
- Era um anjo entre nuvens d'alvorada,
Que em sonhos se banhava e se esquecia!


Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...


Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

[Álvares de Azevedo]








Manuel Antônio Álvares de Azevedo, segundo filho de Inácio Alvarez de Azevedo e Maria Luísa Carlota Silveira da Mota, nasceu na capital de São Paulo na rua de São Francisco próxima à Faculdade de Direito, a 12 de setembro de 1831. Antes de Manuel Antônio casal teve uma filha Maria Luísa, que se tornaria a irmã predileta de Álvares de Azevedo. Com 2 anos de idade Álvares de Azevedo juntamente com sua família muda-se para o Rio de Janeiro.

Em 1835, morre seu irmão mais novo. Álvares de Azevedo fica com a saúde debilitada devido o choque emocional causado pela terrível perda.
De 1840 a 1844, Álvares de Azevedo estuda no Colégio Stoll. Aluno de Destaque impressiona o proprietário do colégio: professor Stoll, que envia uma carta a seu pai contendo os seguintes dizeres: “ Seu pequeno Manuel encanta-me sempre mais: é sem dúvida a criança de mais bela esperança do meu colégio, exceto em ginástica em que é o último”, e diz mais adiante: “ ...é a maior capacidade intelectual que encontrei na América em menino de sua idade”...
Em 1844, viaja para São Paulo em companhia de seu tio dr. José Inácio Silveira da Mota, professor da Faculdade de Direito, presta os exames mas não pode matricular-se devido sua idade. Regressa no ano seguinte ao Rio de Janeiro onde adquire o grau de Bacharel em Letras após ter sido aprovado plenamente em todas as matérias. Nesse colégio Álvares de Azevedo foi aluno de Gonçalves de Magalhães, precursor do Romantismo no Brasil com sua obra: “Suspiros poéticos e saudade”.
Em 1848, Álvares de Azevedo matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Rapidamente se destaca, graças ao estudo de Direito Romano e análise do Código do Comercio no Brasil, foi escolhido como orador na sessão em que se comemorava o aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil em 1849.
Em 1851, vai passar as férias de fim de ano com sua família no Rio de Janeiro, em dezembro vai passar o verão na fazenda de parentes. Nessa época em março de 1852, Álvares de Azevedo que já estava tuberculoso, cai de um cavalo, ficando no leito até a morte no dia 25 de abril de 1852.

Sobre a verdadeira causa de sua morte divergem os biógrafos entre tumor, apendicite, a queda em si, ou tuberculose. Em seu túmulo está o epitáfio: “Foi poeta, sonhou e amou na vida”.

Referencias
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.
FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.AZEVEDO, Álvares de. Lira dos Vinte Anos. Martin Claret, 2007. São Paulo.




Castro Alves



A terceira fase do Romantismo brasileiro não se preocupa apenas com o “eu”, mas também com a sociedade. Os poetas desse período são chamados de poetas “condoreiros”, influenciados pelo escritor francês Victor Hugo eles defenderam a justiça social e a liberdade. Enquanto na Europa defendem a classe operária da exploração, no Brasil a luta é pelo fim da escravidão e pela república. Nesse período destaca-se Castro Alves.
Antonio Frederico de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847, na antiga cidade “Curralinho”, hoje chamada de “Castro Alves”. Estudou direito em Recife e em São Paulo. Vivia com a triz portuguesa Eugênia Câmara.
Na faculdade de direito conviveu com outros poetas românticos importantes, além do intelectual baiano Rui Barbosa.
Destacava-se como poeta revolucionário e declamador muito eloquente. Durante uma caçada feriu-se acidentalmente com uma arma de fogo, como consequência teve o pé amputado e agravada sua doença pulmonar. Acabou voltando para salvador, e lá faleceu em 1871. Ele estava no auge de sua popularidade como poeta e declamador.
Sua obra representa um momento de maturidade e transição na poesia Romântica brasileira. Ele demonstrava maturidade e contraposição às atitudes ingênuas de seus predecessores carregadas de idealização e nacionalismo orgulhoso, em vez disso, Castro Alves retrata o lado feio e esquecido pelos primeiros Românticos; a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Representava transição por que suas atitudes mais realistas apontavam para o movimento literário subsequente, o Realismo que já existia na Europa.
Castro Alves possuía uma sensibilidade em relação aos problemas críticos que o Brasil atravessava por volta de 1850. A Poesia de Castro Alves exercia uma função social, estilo que encontrou sua realização na metade do século XIX.
No entanto, como bom romântico, Castro Alves fez também poesias de caráter lírio-amoroso. Entretanto a mulher na obra de Castro Alves aparece como um ser concreto, mais real do que na obra dos outros poetas de sua época.

Texto retirado de “O navio negreiro”:

"Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...

..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano, 
Tu que dormes das nuvens entre as gazas, 
Sacode as penas, Leviathan do espaço, 
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
 "


As duas flores
"São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!"

Referências Bibliográficas
Alves, Castro. Espumas flutuantes. Martin Claret. São Paulo. 2004.
MAGALHÃES,Tereza Cochar. CEREJA,Willian Roberto. Português linguagens volume 2, São Paulo 1994, Atual Editora.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira, 1936. 44 edição1994. São Paulo. Cultrix.

FARACO, Carlos Emilio. MOURA. Francisco Marto. Língua e Literatura (1996) SP.